A vida vai rodando e rodando, até que chega o dia (apenas para alguns infelizmente) em que percebemos estar a fazer umas quantas voltas ao contrário e então paramos, reavaliamos e valorizamos o que tem verdadeiramente valor. Nunca como hoje dei tanta importância ao silêncio e aos momentos passados com aqueles que me estão mesmo na pele e sem os quais não vivo, apenas sobrevivo, querendo apenas estar envolta no que me melhora e faz pensar, sim porque pensar resolve os problemas do mundo. Estou em total sintonia comigo e com o que me rodeia e relativizo ainda mais, mesmo que tal já me parecesse impossível, os pormenores técnicos, as picardias humanas envoltas em tanta desumanização, a pequenez e a inveja que ataca os desarredados de generosidade e respeito pelos outros. A vida tem-me levado muitos para bem longe, mas eu apoio-a sem questionar, porque é mesmo verdade que quem não está comigo, sabendo de que forma me ler e respeitar, não estará de todo. Assim o proclamo em edital!
A vida é muito mais simples do que nos parece, mas parece que decidimos acreditar que complicar faz parte e que só seremos parte de algo e de alguém se olharmos para o todo com preocupação desmedida e medos infundados. A vida é o agora se o soubermos respirar, mas será igualmente o depois, o que entretanto passou e nos fugiu sem que nos déssemos conta. A vida é o amor que podemos colocar em tudo, porque sem ele não somos muito mais do que o pó em que nos tornaremos. A vida és tu quando mereces ser reconhecido por mim e sou eu porque me valorizo o bastante para que desejes saber quem sou. A vida é isto que tens, porque não almejaste a mais, ou é tudo o que finalmente conquistaste, porque nunca te inibiste de sonhar, criar e fazer acontecer. A vida, para mim, tem que ser a cada dia muito mais e tem que me dar muito mais do que já visualizo, porque é na grandeza que descobrimos o que engrandece todos os outros e nos coloca na única posição desejada, bem à frente.
Não há melhor disfarce do que o medo, porque dele ninguém se quer aproximar demasiado, não quando já tanto abunda por aí. Do medo foge-se como que da morte e no entanto há por aí tanta gente a morrer de medo do que supostamente os deveria manter mais vivos. O medo de perceber e sentir o medo dos outros só amplia o nosso e isso já o saberemos todos!
Ter medo e mostrar medo, encolhe as possibilidades e afasta as oportunidades, até as que estariam visíveis se ao menos não fugíssemos da vida. Mostrar medo empodera quem nos diminui por determinação e enfraquece quem nem chega a perceber porque razão sente medo, mas que se cola ao conforto que ele provoca. Provocar medo, ui, isso já muda muita coisa, muda sobretudo os alvos e as reacções. Provocar mais medo em quem já o bebe mal acorda e adormece a desejar que ele não se afaste demasiado, diz muito de cada um.
Não há melhor forma de vencer uma luta desleal do que usar o medo, mas vezes há em que ele riposta e origina toda a confusão que se instala e recusa a sair. Tenho por isso cada vez mais medo da forma como poderei reagir ao medo que os outros tentarem incutir em mim, porque a acontecer verão uma faceta assustadora de quem sabe como se manter à tona de qualquer "sujidade" emocional, porque mesmo que nunca o tenha usado para me valorizar, sei bem ao que sabe.
Nada como um bom medo de estimação para passar ao lado de tudo o que viver de forma livre representa, por isso escolho a valentia até nas dúvidas, de contrário não adiantaria andar por aqui.
Deixámos de ter medo os dois, mesmo que tenhamos ainda muito para recear. Aproximámo-nos tanto agora, que todas as falhas de antes deixaram de fazer sentido. Impedimos todos os outros de nos estragarem o ar que só respiramos porque existimos, porque pensamos os pensamentos que já eram partilhados muito antes de existirmos e existir só faz sentido se permanecermos. Deixámos de apenas querer, agora queremos justificando todos os movimentos que os amantes coordenam porque de outra forma ficariam descoordenados. Deixámos o mundo com pouca margem de manobra e começámos a manobrar o nosso tempo, os nossos momentos e todos os olhares que nos devemos. Deixámos de ter o que responder aos que nada têm, porque para nos termos realmente, o que não serve terá que ficar demasiado longe. Deixámos para lá tudo o que não nos melhora, mas não deixamos de nos dizer o que passou a importar demasiado para não ser dito.
Mesmo que me diga que não deves ser a razão pela qual todos os meus desejos nascem, o meu coração galga os muros emocionais e reencontra-te em cada sonho. Mesmo que a minha cabeça lute contra a vontade que tenho de te segurar as mãos que tantas vezes me retiras, continuo a querer remendar o que quebraste, mas apenas para quebrar ainda mais uns quantos desejos. Mesmo que a tua responsabilidade seja nula no que diz respeito à minha felicidade, responsabilizo-te pelo amor que me implantaste e que tanto quis fazer crescer. Mesmo que já não sejas capaz de entender que preciso de ti para ter uma razão para continuar, continuo determinadamente à espera te transformes na pessoa que criei e que nunca será real. Mesmo que o tempo me fustigue o olhar cansado de te procurar, escolho ver o que escolhi quando te encontrei, porque a verdade é que o amor só existiu num dos nossos corações e não foi decididamente no teu. Mesmo que doa sentir que nunca sentirás nada por mim, continuarás a manter este sonho inteiro até ao dia em que alguém sonhe comigo e mudemos a frequência e as batidas dum coração que sempre soube o poder que carrega. Mesmo que sangre hoje, amanhã o dia trará os sorrisos que me curarão de ti. Mesmo que já nada mais me possa dizer que te apague, vou esperar que me diga o que é certo e deixes de ser a energia que me movimenta e alimenta o que ainda me restou. Mesmo que ainda saiba muito pouco, vou certamente saber que o final de ti apenas representa novos inícios e estou claramente a precisar que cheguem...
E se terminasses hoje? E se o que te faltava já não tiver forma de ser feito? E se o teu amanhã nunca mais amanhecesse? E se os planos que adiaste por cobardia e para que não desiludisses os que te desiludem a cada dia, fossem indefinidamente adiados? E se começasses mesmo a perceber que afinal nunca percebeste nada e que agora também já de nada te adianta?
Começa hoje. Resolve-te hoje. Avança hoje e desiste hoje de seres apenas uma metade do teu todo. Hoje é um dia tão bom quanto qualquer outro, até porque podes já nem ter um amanhã...
O que é que já aprendeste com a idade? O que é que te permites agora que sabes quem és e que te reconheces em cada sentimento? O que é que o mundo te consegue ainda dar e de que forma te dás agora, retirando o que já não deve permanecer?
Mais velho, mais sábio! Deveria ser desta forma, mas o formato de muitos que escolhem envelhecer mal por não serem capazes de largas as amarras que os prendem à angústia e à culpa que arremessam aos outros, não lhes acrescenta qualquer sabedoria. Crescer emocionalmente resolve tantas questões, das pequenas às aparentemente gigantes, porque elas terão sempre a dimensão de quem as olha. Olhar para o agora, quando resolvemos o antes, imprime uma certeza absurdamente coerente ao amanhã e no meu amanhã vou querer-me bem maior e muito mais capaz de me superar neste desafiador e frágil equilíbrio a que chamamos de vida.
O que é que acreditas ter armazenado que te possa verdadeiramente servir enquanto continuas a tua caminhada? O que é que vês enquanto te olhas e prossegues ainda mais determinada? O que é que te falta ser e saber? O que é que ainda não saboreaste e que lugares ainda não te acompanharam? O que é que podes refazer enquanto fazes acontecer tudo à tua volta? O que é que ainda esperas para começar?
Deixa-te ir devagar e embalada num ritmo que te faça sentido. Permite-te respirar de forma tranquila, deixando para depois o que não precisas de resolver agora. Aprende novas habilidades e usufrui do talento que afinal também tens. Reconhece-te nos silêncios, mas usa os sons para te dizeres o que precisas de ouvir. Procura o teu equilíbrio, ou permite que te encontre enquanto te manténs disponível para este estranho, mas maravilhoso mundo novo. Faz diferente, faz melhor, faz com alma e entrega. Faz o que apenas faz bem e nunca te faças mal, esquecendo-te de que és a pessoa que importa mesmo. Faz por saberes como se faz, mas não deixes de fazer por ainda não saberes.
Permite-te apreender o que te rodeia e percebe, em cada novo acordar, o que precisas verdadeiramente de mudar para que mudes da única forma possível, a que estará sempre certa. Permite aos outros que te entendam e reconheçam e facilita o processo que te facilitará o percurso. Permite-te ser mais e melhor, porque mesmo que tenhas deixado de acreditar, poderás ter sempre uma nova versão e ser a pessoa que a tua pessoa interior identifica.
Fica contigo mais vezes e abstrai-te dos que apenas te consomem e te impedem de estar alinhada com a tua energia. Fica no teu lugar seguro, mas arrisca novos, porque até os mais distantes e irreconhecíveis se poderão tornar surpreendentemente naturais. Fica em cada momento como se fosse o único e estarás a replicar muitos mais.
Porque razão precisamos de caminhar tanto, na maioria das vezes, até sabermos que chão estávamos verdadeiramente a pisar? Porque não pode tudo ser mais claro, rapidamente, ao invés de lento, escuro e inseguro, até que a segurança nos invada de volta?
Quando escolhemos manter as dúvidas, alimentando-as religiosamente, a clareza afasta-se, como que a dar-nos tempo reavaliarmos. Quando precisamos de nos testar até ao limite, acabamos por limitar alguns dos avanços tão duramente conquistados. Quando não nos respondemos de imediato, suspendemos as questões, mas apenas para as enfrentar depois, porque não há como fugir à realidade, nem à nossa essência.
Porque razão escolhemos ignorar a razão e entregamos os sentimentos e as emoções nas mãos erradas?
Quando é que fica mais fácil? Quando é que nos permitimos continuar, acordando para novos inícios, criando novas memórias e aceitando o que terminou? Quando é que paramos de procurar desculpas e entendemos que alguns erros acontecem por escolha consciente? Quando é que o amor passa apenas a sê-lo, não importa a latitude e independente da estação do ano, ou de qualquer outra ocorrência mais ou menos previsível? Quando é que nos damos as únicas respostas possíveis?
Já sei que és a razão pela qual me afirmei e passei a saber ler tudo o que carrego. Não precisei de muito mais do que amar-te para saber qual o poder do amor real, aquele que se cola a todas as células que se movimentam para que não me possa parar e siga, devagar, mas de forma determinada. És tu a razão pela qual já não me culpo nem magoo, porque preciso apenas de me lembrar de como era olhada e o que dizias esperar de mim. Não voltei a precisar de ouvir o quanto sou especial, porque passei a acreditar mesmo e acreditando posso ser e fazer tudo. És a razão pela qual me sosseguei o bastante para saber o que fazer depois de ti e já foi tanto o que conquistei, que acordo e adormeço a agradecer-te até pelo que não deixaste. Já sei como me vias e porque me achavas grande, é que afinal sou mesmo e tenho o mundo inteiro a redesenhar cada uma das linhas que comecei em pequenos rascunhos. Ainda não naveguei em oceanos contigo, mas o rio que correu enquanto nos amámos trouxe-me a este mar cujas ondas me levam ainda mais longe, mais perto do que sempre fui capaz de ver e sem ondas que me impeçam de me banhar na luz e até na escuridão. Já sei porque razão vieste e também já sei o que nos devíamos de outras vidas, por isso nos pagámos num amor veloz, mas tão intenso que me consegui lembrar de quem eras e porque te procurei tanto. Não te mantive aqui, porque ali, do outro lado de nós, continuarás à minha espera e eu voltarei a saber quem és.