Hoje vi a entrevista do Manuel Luís Goucha à Catarina Furtado, na qual lhe perguntou se ela considerava já ser a Mulher que queria ser e não pude deixar de querer refletir sobre a Mulher que me tornei!
Se cada um de nós se cuidasse o bastante para poder cuidar do outro de igual forma, o mundo seria um lugar maravilhoso, tal como o seríamos também nós. Se vivêssemos numa constante necessidade de crescimento interior, a paz chegaria de forma natural e a iluminar o caminho que ainda não está visível. Se não nos recusássemos o que é nosso por direito, dando-nos o valor que temos que fazer por merecer, porque apenas assim seremos valorizados, a nossa pegada na vida que envolve muitas outras almas, seria inevitavelmente grande e visível. Se estivéssemos mais atentos ao que aparentemente é pequeno, tudo o resto seria verdadeiramente visto.
A Mulher que me tornei vive num inevitável conflito entre o que sente e o que pensa, mas sempre desejosa de encontrar o equilíbrio que me fará servir mais e melhor os que de mim dependem e os que vão surgindo, aqui e ali, por "coincidências do universo". A Mulher que a cada dia respeito mais, porque faço por não me defraudar, dizendo exatamente o que sinto e sentindo tudo o que digo para que faça eventualmente eco nos outros, só que seja mais 1. A Mulher que pretendo que os meus filhos vejam, já reflete a clareza, o bom-senso e o amor que cresce e cresce para lhes entrar na corrente sanguínea e ser replicado, provando-lhes que ser bom e genuíno é possível e uma escolha. A Mulher que começa e termina os dias comigo, é mais segura, mesmo que ainda carregue inseguranças tolas, é mais compreensível, mesmo que escolha não compreender os que disparam sem apelo nem agrado atingindo os próprios pés; é mais sábia, mas nunca recusa aprender com quem ainda não sabe o suficiente sobre emoções e espiritualidade; é mais tolerante perante o que está errado no mundo, e é muito, mas não se acomoda ao ponto de desistir de participar na sua melhoria; aceita o que não pode mudar e muda o que não pode aceitar, mesmo que lhe provoque dores lancinantes e obrigue e mudanças assustadoras. A Mulher que me tornei é inequivocamente melhor do que antes, mas seguramente que ainda tem muita margem para melhoria.
E se pudesse sair agora de mim e ver-me do lado de lá, o que será que perceberia? E se simplesmente pudesse deixar para lá o que me interrompe o percurso e apenas seguir, sem medos, sendo mais destemida e arrojada? E se fosse capaz de confiar em quem até confia que não falharei e aproveitar tudo o que já armazenei? E se os "ses" da minha vida desaparecessem sem qualquer esforço e tudo fosse mais claro e possível?
Somos, sem qualquer dúvida, os nossos maiores bloqueadores de prazer, sucumbindo ao medo ao invés do puro prazer, aquele que nos traz quem teria que chegar. Somos muitas histórias por concluir e outras tantas que não arriscamos começar. Somos a pessoa certa de alguém e a errada também, mas somos muito mais do que reconhecemos a cada dia, esperando que mais nada precise de ser feito ou descoberto. Somos capas mais ou menos duras e o problema maior passa por mantermos vestida até a que nos incomoda. Somos metades mais incompletas quando desistimos.
E se fosse capaz de me aceitar com tudo o que tenho dentro e que merece ser visto e sentido? E se voltasse a acreditar que amar é tão natural quanto é o respirar que já nem é tão compassado? E se te desse autorização para me dares o que mereço? E se fosses mesmo tu a recordar-me do que fiz por esquecer?
Sou fruto do que construí, mas quem sabe não me consigo ainda surpreender, permitindo que alguém me ame sem quês nem porquês...
Nunca nos chegámos a despedir, fomos apenas usando uns quantos "até logo", até se transformarem no NADA que sobrou. Gostava de não ter usado palavras tão amargas, mas a verdade é que te amei TANTO, que saber que o impossível se instalara me rasgou por dentro. Queria, mais do que tudo agora, que nos tivéssemos confortado num adeus que nos libertasse, porque na verdade continuamos por aqui, presos ao que imaginámos que seria e completamente incapazes de saber ao que teria sabido o nosso para sempre.
Deixaste-me sem vontade de sequer olhar para um outro olhar. Quebraste-me tanto que já não me permito os braços de quem me abraçariam e te arrancaria de mim. Impediste-me de voltar a acreditar no amor e não era esse o direito que te assistia.
Nunca maisnos voltámos a beijar como no início e foi tanta a vontade de nos termos, quando apenas tínhamos isso mesmo, vontade, que bem poderíamos ter dado mais um. Nunca nos perdoámos pela desistência a dois e por tudo o que nos impedimos de ser enquanto o éramos. Nunca mais acordei a saber que estavas do lado certo da minha vida e já não voltarei a adormecer com quem era seguramente a pessoa que me mostraria o melhor de mim.
Deixei-te sem vontade de lutares por mim, porque não soube como te fazer saber que todo o amor que te tinha era mesmo real e poderia ficar entre nós, sendo a realidade pela qual esperámos tantos anos. Quebrei-te ao fingir-me de forte e mesmo sabendo que o era, deveria ter deixado passar a fragilidade que me fez agarrar-te quando acreditei que nunca mais voltaria a amar.
Nunca mais nos ouvimos, mas ainda recordo o timbre da tua voz e como ela me fazia estremecer de prazer e desejo. Nunca mais voltámos a considerar voltar atrás e foi isso que ditou este presente, que é tão apenas um futuro sem ti e com o tanto que ainda te amo, e tu sem mim sabendo que nunca mais amarás alguém assim. Nunca mais é tão definitivo quanto o que fechámos em nós apenas para nunca mais nos abrirmos ao mundo. Com o nunca ficámos ambos a perder...
Ouve-me, estou a pedir porque preciso que me consigas mesmo ouvir. Ouve-me até quando pareço dizer o contrário do que sinto, porque sentir à minha velocidade certamente te assustaria. Ouve-me com a voz que conquistei enquanto fui forçada a ouvir quem nunca me disse o que me fazia falta. Ouve-me para que não tenha que me repetir, mas atenta a todos os sons dos meus silêncios para que descubras o que significam. Ouve-me sem pressa, e de cada vez que tiveres uma pergunta a resposta será o que me ditar a mente e aceitar o coração. Ouve-me para que mais tarde não te acuse de teres estado demasiado distraído para saberes do que falava enquanto nada dizia. Ouve-me, porque se o fizeres saberei que és tu e as dúvidas de que sou feita partirão para nunca mais voltar. Ouve-me para que não tenha que me sentir sozinha, sem saber que caminho escolher e onde estar para que esteja verdadeiramente com quem importa. Ouve-me e enquanto o fizeres segue a minha voz porque ela nunca te levará ao engano. Ouve-me bem de perto e sente o que te vou sussurrar enquanto me dou inteira. Ouve-me, sobretudo agora que tantos falam sem nada dizerem e prometo que te direi sempre tudo. Ouve-me e tentarei falar mais vezes, colorindo o som das minhas palavras. Ouve-me enquanto te canto as canções que falam de nós e cujas letras bem poderia ter escrito. Ouve-me, porque se não o fizeres, pouco mais poderá ser feito. Ouve-me, estou a pedir-te agora para que nunca mais precise de o fazer.
Só conseguimos identificar o que é, o que está e o que temos, quando percebemos o que significa o inverso!
Sabemos com mais certeza o que é o amor, quando já vivemos o desamor. Cola-se na pele o doce do cuidado e das palavras que nos impulsionam, quando já vivemos com pessoas descuidadas, amargas e que NUNCA têm nada de BOM para oferecer. Temos uma perceção mais clara do que passámos aos nossos, quando nos começam a retribuir o que armazenaram e é apenas aí que nos chegam as certezas. Sentimos a falta de cobranças, o elogio natural e o respeito pelo que fazemos pessoal e profissionalmente, quando já provámos das cobranças de quem aponta até as coisas mais pequenas, que deveriam ter sido dadas de forma generosa e da espera desesperada pelo reconhecimento e uma vez mais pelo amor.
Quando somos capazes de verbalizar o que agora é, e espero sinceramente que já o seja para muitas mais pessoas, é tão simplesmente porque passámos a ter referências claras sobre comportamentos. Somos nós que encobrimos os abusos e os camuflamos de afetos, recusando o que nos libertaria de quem nos nega a nossa verdade. Quando saímos da nossa zona de conforto, arrancando as camadas que aparentemente nos protegiam, mas apenas aguçavam as doenças emocionais, ficamos mais perto da cura.
Só conseguimos identificar o que NÃO nos serve, quando permitimos que o que é certo e nos melhora se instale. Só conseguimos sair de relações abusivas, quando as aprendemos a ler e paramos de nos calar e de permitir que nos aprisionem na dor. Só saberemos como evitar futuros abusos e dores emocionais, quando não saltarmos de uma para oura zona de conforto, querendo apenas viver sem muito trabalho emocional, encaixando simplesmente as peças num puzzle pequeno e claro. Só mudamos de vida quando permitimos que a vida mude.
Foi preciso perder-te para perceber o poder que tenho. Tive que ultrapassar todo o amor que já te tive para me saber amar ainda mais e parar de chorar.
Dizes-me que te faço falta e fá-lo arrastando a voz que me assegura de que choras agora tal como já o fiz antes, mas a verdade é que ainda terás muito mais para chorar e lamentar. Falas do que te fez gostar de mim não percebendo que deixou de adiantar. Sopras-me o amor que te sobrou e eu respondo-te que nada do que eras para mim restou. Sabes que me estou a afastar irremediavelmente e que perdeste o encanto que me fez considerar uma vida juntos. O que está no teu coração já não esta na minha cabeça e nem a vontade de recordar o que fomos me importa mais.
Foi preciso descobrir que me avaliavas de forma pequena para crescer até agigantar a vontade de nunca mais depender de alguém., muito menos de ti.
Pedes-me que te dê só mais um dia e que nele explicarás porque razão não estavas pronto, mas de repente aprontei-me para vida que tenho que viver sem ti e que bem me soube já não querer saber. Gritas-me que te perdoe, mas nada mais há a perdoar, deixei apenas de querer cuidar mais do que sou cuidada. Imploras-me pelo amor que já foi TODO teu, mas numa linda tarde dum outono que passou, tentei oferecer-te o que não soubeste guardar.
Foi preciso ouvir-te mesmo, para perceber que afinal nunca poderias ter dito algo que mudasse o que hoje finalizo.
Defende-te do que não te acrescenta. Sê cuidadosa com o que comes, a forma como dormes e tudo para onde precisas de olhar para que vejas mesmo. Sente-te como estando no lugar onde estás e não descures nenhum pormenor. Dá risadas genuínas, ri-te de ti e ri com os outros. Vê filmes que te levantem a moral e nunca o contrário, porque a corrente de negatividade que o mundo alberga neste momento é TÃO grande, que te entrará pela corrente sanguínea, circulando velozmente para te fragilizar e quebrar as defesas.
Sê generosa contigo.
Rodeia-te de pessoas que sejam positivas e igualmente generosas, otimistas e corajosas, porque nunca antes precisámos de TANTA coragem para simplesmente crescer, sobreviver e permanecer.
Sê generosa contigo.
Movimenta-te de forma a que te influencies para seres grande e para chegares mais longe. Abre-te às inúmeras possibilidades e inicia tudo o que te assusta, porque se te testares, saberás o quão bem-sucedida poderás mesmo ser.
Sê generosa contigo.
Não julgues. Não tentes entender. Não perdoes apenas porque sim, mas porque precisas de manter o coração livre para o que é realmente válido. Não te percas demasiado a analisar de que forma os outros escolhem viver. Não te subtraias as vitórias, porque certamente já viveste muitas, mas permite-te outras tantas, sem julgamentos externos e sem arrastares os que se agarram à tua capacidade de evoluir para encontrarem caminhos há muito abertos.
Sê generosa contigo.
Ama-te em primeiro lugar porque apenas assim saberás como amar os outros e olha que o amor tem inúmeras formas e alvos. Não corras a salvar quem não pretende ser salvo, não do que já conhece, mesmo que não lhe sirva. Não te foques demasiado no que é supostamente imperativo e faz o que deve ser feito para que a parte que vieste concluir, não tenha que ser repetida e revivida.
Sê generosa contigo.
Não procures guerras e não inicies batalhas que nunca terás forma de vencer. Sê menos beligerante, mas não te livres das armas que te defenderão dos que apenas atacam para não terem que se defender de si mesmos. Abre as mãos quando nada do que presta as encha e fecha-as com determinação quando o que agarraste já te pertence e é válido, é representativo de quem representas e te define.
Sê generosa contigo, cada dia mais e a tua generosidade irá seguramente propagar-se para os que já iniciaram a mesma viagem.
Beijos, quem ainda os tem e dá? Beijos que te acordam até nos dias sombrios e te adormecem tão cheios de tudo, que mais nada cabe. Beijos para que te possas passar ao outro e receber dele a energia que te alimenta e regenera. Beijos que não podem deixar de ser dados, porque com eles chega toda a intimidade e se recarrega o amor que começou porque fazia sentido.
Beijos, quem ainda precisa de os pedir? Se não te chegam de forma natural, naturalmente que estás com a pessoa errada e serão tão amargos os poucos beijos que te possa dar. Se não te satisfazem ou completam, se precisas de deixar a única boca que querias na tua; se mesmo depois dum beijo continuas a sentir que nada recebeste, então já não sabes o que significa ser beijada.
Beijos, quem diz que não fazem falta? Talvez quem nunca tenha aprendido a beijar. Muito provavelmente quem não percebe que cada um dos nossos botões, até os que não sabemos existir, se ligam quando ligamos a nossa boca a outra. Certamente que quem passa sem eles tem apenas andado a passar pela vida, demasiado devagar para chegar ao lugar certo, ou tão rapidamente que deixa de ver o que está bem perto.
A idade traz sabedoria, mas com ela também chegam as questões mais profundas e a vontade de já ter tudo mais definido e alinhado. A idade está na cabeça e só nos perturba quando estamos cheios do lixo que acumulámos sem o conseguir triar. A idade tem que nos conseguir melhorar e permitir aprender o que antes não tinha sido possível, por falta de tempo, por demasiado barulho externo ou por puro desconhecimento do como e do quando. A idade tem que ser algo de bom, envelhecimento à parte, porque esse não se pode parar, apenas atrasar. A idade é o que nos faz colocar em perspetiva o que é verdadeiramente importante, não para todos infelizmente, mas para os que não querem apenas andar por aqui, num sono acordado e num adiar constante do que TEM que ser feito. A idade não chega para todos da mesma forma, para alguns vai sempre faltar bom-senso e sobrar a estupidez instalada com que levamos dia sim e dia também, mas como são esses que nos endurecem a carapaça, temos que lhes saber agradecer. A idade, ai a idade, se ela resolvesse tudo, não estaria para aqui a dissertar sobre os que apenas crescem em anos civis, mas que nunca avançam em sabedoria, cimentando o carácter, essa característica inestimável e cada vez mais rara.
Todos nós procuramos algo que nos preencha e permita dar sentido à vida. Sabemos ao que sabe encontrar o que tanto desejamos e que até pode chegar nas mais variadas formas. Nós, os que não desistimos, queremos desde que nos conhecemos por gente, que alguém nos queira verdadeiramente e que o prove até no mais pequeno. Os que ainda conseguem manter a alma inocente, mesmo perante todo o mal que o mundo carrega, sabem que um dia, depois de muito querer, sonhar e para isso trabalhar, o que nos valida e transforma, chegará.
Todos nós, de uma forma ou de outra, procuramos a felicidade, mas na verdade ela está sempre presente e apenas precisa de ser validada para que seja nossa. Ela está nos sorrisos de quem não conhecemos quando lhes dispensamos algum do tempo que mudará o seu. Está nos abraços que não damos agora e que muito provavelmente evitámos quando eram possíveis, mas que um dia recuperaremos. Está no importar genuíno com quem talvez nem se importe connosco, mas que também é filho de um Deus. Está em tudo o que somos, porque é apenas isso que saberemos dar.
Todos nós queremos saber as respostas que já são feitas desde o começo do mundo, mas a verdade é que apenas alguns estarão preparados para as ouvir.