A vida é feita de amores que chegam, mas partem e de dores que nem sempre aumentam, mas que perturbam o bastante para que não as queiramos repetir.
Já desisti de querer controlar o que os outros conseguem ver, o que carregam e o que estão dispostos a partilhar. Já não me demoro mais do que o necessário em lugares que não me falam ao coração e nem me disponho a ouvir o que nada me diz. Já sou muito mais tolerante, por muito que pareça um conta-censo, mas a verdade é que ao saber ler melhor nas entrelinhas, sei quando bater em retirada, deixando que as pessoas sejam apenas pessoas, com as falhas e as dúvidas que entenderem alimentar. Já não pretendo mudar ninguém, uso as energias em mim mesma.
A vida é o que somos capazes de imaginar, até quando a noite se abata sob o que parecia ser um sol brilhante e é por isso que me esforço por manter em alta cada vislumbre de felicidade, estando no lugar que me parecer certo, pelo tempo que durar. A vida é um vaivém constante de desafios e nunca sendo estática ou previsível, deixa-nos sem qualquer dúvida, com mais margem de manobra. A vida é isto, o que fazes agora e o que nunca te permites fazer.
Tomamos tudo por garantido agora. Achamos que o que temos, mesmo que nos pareça pouco, foi sempre assim, mas a verdade é que o mundo galgou enormes barreiras de lá até então.
Nunca foi fácil ser mulher, não o é ainda e certamente que assim se manterá por muitas mais décadas, mas sabemos todos que já foi BEM mais difícil. Ser-se mulher nas mais diversas áreas, obrigava a cedências, a esconderijos forçados e a constantes anonimatos. Ser-se autora, por si só, não permitia notoriedade, as mulheres eram forçadas a usar pseudónimos e raramente lhes era atribuído qualquer crédito. Enquanto via um filme sobre a vida de Mary Shelley, a autora de "Frankenstein", senti-me o ser mais livre e pleno de benefícios de sempre. Hoje, e ainda que seja chamada de sexo fraco, mas que de fraca não tenho NADA, sei que tenho voz, posso fazer escolhas e posso lutar, sem armas mortíferas, pelos direitos que ainda pretendo ver melhorados, sendo ouvida e vista.
Andar por aqui já foi tão duro e desconsiderado. Podiam apenas ser a mulher de alguém, uma fazedora de criaturas, organizando e mantendo todos à sua volta felizes, excepto a si mesmas. Ninguém se importava com as dores e nada de importante ou relevante poderia sair das cabeças que apenas se desejavam bem arranjadas.
Quando é que se tornou mais fácil e natural ser do género feminino? Em que momento se passou a poder almejar a mais e a não ter que dizer apenas o que soava a certo, mas sendo erradamente arrojada, cometendo erros, mas melhorando-os a cada etapa? Como foi que se sentiu a primeira mulher a poder dizer "eu quero assim"?
Por quanto mais tempo vamos continuar a tomar TUDO por garantido, deixando de olhar para os degraus que nos puseram tão alto quanto formos capazes de sonhar?
Julgo que em algum momento na nossa vida, já fomos todos um "people pleaser", alguém que apenas quer manter os outros felizes, anulando-se, não dizendo o que sente ou pensa, porque aceita que a sua função é manter a paz dos outros.
Conheço umas quantas almas que ainda o fazem, por preguiça emocional, por receio de se fazerem ouvir, ou tão simplesmente porque lutar e ripostar dá trabalho. Sei bem os efeitos de tais escolhas, sobretudo no que concerne a saúde, mas ainda assim, depois de muitas provas documentadas, continuo a tropeçar nos que já desistiram de mudar o seu pedaço de mundo e se anularam ao ponto de já nem serem vistos.
Quem é a pessoa mais importante da tua vida? Se ainda não sabes a resposta, vais continuar a manter o padrão que te passou a definir enquanto pessoa. Não tens que ser amargo, sonoro, desagradável ou rancoroso, tens apenas que dizer o que pensas, usando o NÃO tantas vezes quantas forem necessárias para que te oiçam mesmo.
Temos todos um lugar neste mundo e não podemos, sob nenhuma desculpa, aceitar que alguém o ensombre e carregue de negatividade, roubando-nos a serenidade que chega com as certezas. Temos todos uma opinião, uma visão e um formato que deve ser respeitado e não subvertido. Temos todos razão, algumas vezes e muita falta dela numas quantas outras situações, mas o que não temos, é o direito de desrespeitar e desvalorizar quem também anda por aqui.
O que sentes agora e o que foste sentindo ao longo da tua caminhada como mulher?
Será que existem idades boas e más, ou seremos apenas fustigadas pelo que nos povoa o cérebro, em primeiro lugar, e depois então sim pelas inevitáveis mudanças físicas e emocionais? Tudo do que nos chega e mantemos, ou descartamos, tem a ver sobretudo com a nossa capacidade de olhar para o futuro inevitável, o envelhecimento do corpo. A grande maioria saiu de relações longas, com muito pouco de validação na bagagem e carregando, de forma quase assustadora, as mágoas, os ressentimentos e as culpas. Reentramos no chamado mundo novo das "unidoses" e acabamos a reavaliar o que adiámos, achando então que nos sobrava tempo.
O que te fazem sentir os que te olham como mulher?
Perdemos elasticidade e plasticidade cerebral. Deixamos de cheirar a rosas e de beijar como uma menina. Já não falamos apenas dos sonhos e das conquistas, focamo-nos nos outros, nos filhos, nas relações falhadas, nas rugas e nas dores constantes, mesmo que invisíveis e criadas. Já não suscitamos tanto desejo, ou pelo menos assim acreditamos e desatamos a querer, de repente, tudo o que não fomos capazes de construir antes, ou pior ainda, a desistir sem sequer tentar.
O que te faz baixar a fasquia quanto a requisitos masculinos, ou a subi-la descaradamente?
Tens o valor que te atribuíres e não deves, em nenhuma circunstância, alegando sobretudo medo de continuar a viagem sozinha, aceitar o que te vier, se não te mover corpo e alma em simultâneo. Dizem que existe um chinelo para cada pé, mas se não o encontrares, anda descalça, pisa a erva, molha os pés e magoa-te até nas pedras, mas escolhe o caminho que te pertence e não o que os outros entendem deveres fazer. Afinal de contas no passado já tiveste mais do mesmo, certo?
Quero saber do que quero, no momento certo, sem ter que continuar a esperar demasiado, adiando-me quando até já reconheci o caminho!
Quero ser mais determinada, resolvida e determinada, quando os momentos certos surgirem, desejando verdadeiramente poder reconhecê-los. Quero mais de mim para poder exigir mais dos outros, é que de outra forma o desequilíbrio irá manter-se. Quero que a verdade apague o que já me soa a falso e que todos os que professam o que se veem incapazes de fazer, se decidam e reavaliem, porque andamos todos por aqui. Quero um amor sem custos, sem prejuízos e sem dores maiores. Quero a simplicidade em cada acordar e que o complicado se esfume com os que já partiram. Quero cada dia mais, sem qualquer receio de estar a pedir demasiado e segura de que só poderá ser desta forma. Quero regressar ao tempo em que apenas o meu tempo contava e contá-lo devidamente, porque o respeito bem mais agora.
Quero que a vida se torne mais clara, sabendo que terei que ser a que procura, nos lugares devidos, o que me permitirá continuar a avançar, sem hesitações.
As energias mexem connosco, revolvendo crenças, posturas e lugares comuns. As energias boas colocam-nos de volta ao caminho, mas já as negativas, atrasam pensamentos, emoções e até momentos determinados previamente.
Tudo o que está à nossa volta entra pela nossa vida dentro, arrancando o que não deve ficar e mantendo o que nos servirá no futuro. Quanto mais olhamos, vendo realmente, mais apendemos sobre o que esperar e onde ficar emocionalmente. Quanto melhor ouvimos, escutando os sons mais pequenos e aceitando os maiores, os que nos movem mais rapidamente, mais ficamos a saber sobre nós e os outros.
O que mais procuramos, eu incluída, é entender o que nos é suposto saber, durante quanto tempo e para que propósito, imediato ou futuro. O que supostamente devemos querer arrecadar, são as pessoas e os momentos que nos reflectem e validam. O que certamente precisamos de saber parar, é tudo o que nos tem atrasado e parado quando já deveríamos estar a correr.
De que forma te energizas quando e enquanto quase te sugam o que já é teu por direito?
Não consigo deixar de me surpreender com as pessoas que agarram nos seus sonhos e os colocam na vida. Sabem o que querem ser, mesmo que não tenham ainda descoberto a forma certa, mas nunca permitindo que as dúvidas as afastem demasiado tempo, porque já sabemos todos que ele não espera por ninguém.
O que fazes mesmo por ti a cada dia? Será que te reservas algum, ou deixas-te apenas seguir sem demasiados planos que te incluam?
Algumas pessoas conseguem o "milagre" de nos passar emoções e experiências que parecem simples, programáveis e possíveis, impelindo-nos a iniciar viagens tantas vezes adiadas. Sou uma delas e dou comigo, cada vez mais, a querer diferente, mais e melhor, usando a experiência dos que se "atiram" para o medo, com receios obviamente, porque são eles mesmos humanos, mas plenos duma coragem que fará tudo valer a pena.
O que tens evitado ser e fazer enquanto fazes, aparentemente, tudo o que se espera de ti?
Os tempos difíceis podem mudar até a forma como sentimos, talvez por isso existam tantas pessoas a sentir de forma dolorosa, infligindo dor aos outros. Os momentos de luta interna dificultam as relações, amargando o que nem deveria ter sabor, ou o que já poderia ser doce. Os olhares magoados e que carregam passados pesados, pesam nos relacionamentos mais comuns, amplificando o que nem tem assim tanta importância e diminuindo o que deveria ser considerado. Os sonhos apagados por escolha, ou pela sua falta, provocam erros que nem sempre se remedeiam e que se perpetuam em comportamentos que não servem a ninguém.
Muito do que não temos acontece pelo que nos impedimos e travamos, seguindo em rotas que já sabemos ser as erradas, mas escolhendo sempre os mesmos lugares, usando as mesmas palavras e olhando sem nunca conseguir ver o que está bem à frente dos nossos olhos. Muito do que somos hoje, com erros e sucessos, é fruto do que nos facilitámos sempre que conseguimos ver para lá da tempestade e do que erradamente dificultámos com medo de voltar a errar. Muito do amor que nos falta veio com a incapacidade de nos amarmos primeiro, mostrando, sem lugar a qualquer dúvida, que sabemos exactamente de que forma amar.
As defesas emocionais poderão subir tal qual uma parede de tijolo, fila a fila, para que se encubra o que não queremos visível, mas impedindo-nos igualmente de ver para lá dela.
Para quem já entende as movimentações do Universo, vê este filme com muitos sorrisos nos lábios, porque a verdade é que somos mesmo o que pensamos. É um filme para ver em família e sobretudo para sonhar acordado. Convém que saibamos mesmo o que queremos e esperamos da vida, porque apenas assim ela terá forma de nos enviar o que pedirmos. O amor continua a ser o mote para tudo.
Aconselho vivamente, como forma de quebrar este ciclo instituído de coisas más, pesadas e de inevitabilidades sem responsabilidade.
Longe vão os tempos em que nos reuníamos apenas para respirar e fugir das nossas rotinas loucas e imperdoáveis. Estivemos sempre juntas em diversas viagens e crescemos profissionalmente de forma meteórica, carregando sentimentos diversos, os de enorme admiração, mas também com uns quantos de penalização social, é que no afinal das contas não deixamos de ser mulheres.
- Mas quando é que planeiam casar?
- Não é tarde para serem mães?
- Se ganham mais do que os homens eles não vos vão aceitar com facilidade.
Eram estas e outras enormidades constantes que nos juntavam em pequenos, mas deliciosos momentos nos quais ríamos e brincávamos com a pequenez de mente que nem o novo milénio consegue afastar. Já não estranhávamos nada, mas acabávamos de alguma forma tristes e a cada dia mais sozinhas.
- Fui convidada a gerir o departamento de publicidade em Londres e estou a pensar aceitar.
- Era pelo que esperavas, por isso embora lá para que te possa visitar e começarmos a tão desejada viagem pela europa.
O sucesso tem diversas avaliações e percepções, passando sobretudo por quem o analisa e por norma nem sempre coincide com quem o vive, mas porque nada é perfeito, não raras vezes nos atira para um lugar mais solitário. O sucesso profissional nem sempre anda de mãos dadas com o pessoal, mas as escolhas acabarão por nos dirigir para o lugar que consideramos ser o mais certo.